Painel IDESF: os desafios da segurança e defesa em tempos de pandemia

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“Situações extremas levam pessoas ‘normais’ a agirem como ‘bandidos’”. A afirmação do comandante Leonardo Mattos, referindo-se ao agravamento da desigualdade social como efeito da pandemia, foi um dos tons do debate sobre “Segurança e defesa pós Covid-19”, promovido pelo Instituto de Desenvolvimento Econômico e Social de Fronteiras (IDESF). O painel aconteceu em plataforma digital, na sexta-feira (29), e reuniu plateia de 205 participantes online, entre convidados e alunos da Pós-Graduação em Gestão, Estratégia e Planejamento em Fronteiras do IDESF.

Para Mattos, a crescente falta de perspectiva econômica é pano de fundo da instabilidade insurgente em vários pontos do planeta, ainda que a sociedade talvez não tenha esta percepção. “Um pai que não tem comida para dar aos seus filhos pode se transformar em qualquer coisa”, afirmou, fazendo referência aos recentes conflitos registrados em Mineápolis, nos EUA. “Não é só uma questão do racismo, mas toda essa raiva tem um componente dos milhões de desempregados na economia americana”, avaliou.

Além do comandante da Marinha, o debate do IDESF contou com outros três painelistas: o Secretário de Assuntos de Defesa e Segurança Nacional do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, Major Brigadeiro do Ar, Ary Soares Mesquita; o coordenador do Curso de Gestão de Recursos de Defesa da Escola Superior de Guerra (ESG), Gustavo Alberto Trompowsky Heck, e o professor da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), Tassio Franchi. A mediação foi do presidente do IDESF, Luciano Stremel Barros.

O segundo ponto agravado pela pandemia, na avaliação de Mattos, é a disputa hegemônica entre China e Estados Unidos pelo controle da economia global, o que requer habilidade ainda maior das lideranças brasileiras. E como pano de fundo, abordou a educação. “A única maneira de o Brasil se tornar o País que tem condições de ser, um protagonista internacional, é subirmos a régua do nível de educação do País”, disse, reforçando a necessidade urgente de ‘prestigiar os professores’.

Tensões – O vírus potencializa tendência já apontada pelo Brexit, em ações que testamposições internacionais e estimulam um ‘jogo de ação para ver a reação’, culminando, naturalmente, na elevação das tensões nas fronteiras. “Debaixo da névoa da pandemia do Covid-19, os músculos militares internacionais estão sendo estendidos”, resumiu Tassio Franchi.

Em âmbito nacional, Franchi demonstrou a mesma preocupação em relação às fronteiras, em especial às do Norte do País. “As alternativas que a população do arco norte tem de empregabilidade, acesso à saúde e a mecanismos do Estado que garantam renda mínima são muito baixas. Aí, ele (cidadão) tem do outro lado da fronteira, quando não do outro lado da porta de casa, alguém pronto a fomentar, a pagar bons salários para se envolver em atividades ilícitas”.

Entre os desafios fronteiriços do País, citou a questão dos refugiados venezuelanos. “A operação acolhida é um case de sucesso, mas vai ter continuidade pois a Venezuela tem estabilidade conflitiva. O governo Maduro criou mecanismo efetivo de controle do Estado e o fluxo de refugiados vai continuar”

Franchi também fez um alerta acerca das investidas do crime organizado nas fronteiras brasileiras, que qualificou como maior ‘confiança’ das quadrilhas. “Há uma disponibilidade maior para o enfrentamento, seja das Forças Armadas ou de outras forças de segurança”, afirmou. E citou casos de embates entre traficantes e militares no Norte do país e na fronteira entre o Brasil e o Paraguai, destacando que a solução está na atuação integrada das instituições. “Não foram enfrentamentos acidentais, mas sim planejados, o que vai nos levar a repensar a estrutura de segurança”.

Limites – O brigadeiro Ary Mesquita destacou as ações do Programa de Proteção Integrada de Fronteira (PPIF) nos quase 16,8 mil quilômetros de fronteira entre o Brasil e os países vizinhos, mas destacou que o limite territorial do país também é formado por fronteiras marítimas.

“Se um lado é um vazio demográfico, o outro tem uma larga densidade (populacional); se do lado esquerdo temos pouca expressão econômica, do outro lado temos 90% das exportações nacionais”. E chamou atenção para a integração dos órgãos de inteligência dos nove organismos que fazem parte do PPIF, em especial ao trabalho da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).

Detalhando o funcionamento do GSI, com ênfase na atuação em ações contra a pandemia, Mesquita enfatizou o valor da infraestrutura crítica na região fronteiriça, citando como exemplos a usina de Itaipu, o Aeroporto de Foz do Iguaçu e a Ponte Internacional da Amizade. E enfatizou que a constituição da PPIF por parte do Governo Federal, veio atender demandas específicas relacionadas à governança, integração com países vizinhos e às fronteiras marítimas. “Existem políticas vocacionadas para as regiões fronteiras”.

Gustavo Rech destacou o interesse dos mais de 200 participantes do painel e fez um panorama dos aspectos relacionados à soberania e defesa do país no contexto atual de pandemia. “A sociedade brasileira tem consciência da importância das questões de segurança e defesa?” questionou, complementando que “aplicar em defesa não é despesa, mas investimento”.

O curso – A Pós-Graduação em Gestão, Estratégia e Planejamento em Fronteiras oferecida pelo IDESF tem cronograma estruturado em eixos de desenvolvimento, proporcionando aos alunos uma formação com abordagem ampla sobre as realidades de fronteira. O curso tem conteúdos que abordam os eixos da saúde, educação, economia e desenvolvimento e segurança pública, com objetivo de formar líderes e gestores protagonistas, preparados para propor soluções para as regiões fronteiriças.     

Rosane Amadori – Comunicação IDESF       

 

 

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