O Policial Rodoviário Federal Bruno Leonardo Lima da Silva, lotado no Núcleo de Segurança Viária de Rondônia (NSVRO), conquistou o primeiro lugar na Categoria II do Prêmio de Segurança Viária da PRF em 2025. O resultado preliminar, divulgado pela Diretoria de Operações (DIOP) em agosto, consagrou a iniciativa do servidor, que alcançou a pontuação de 81,7/100.
Bruno tem formação acadêmica em matemática aplicada, bacharelado e licenciatura plena, com pós-graduação em aplicações. Ele é egresso da turma de 2022 da pós-graduação lato sensu em Gestão, Estratégia e Planejamento em Fronteiras, realizada pelo IDESF e pela ESIC Internacional. Bruno destacou que apreciou a experiência relacionada à pesquisa científica durante a pós-graduação. “A partir dos conhecimentos adquiridos no curso, com os professores do Instituto e sobretudo pelo acompanhado da orientadora, peguei gosto pela busca científica e então elaborei um trabalho que acabou vencendo o prêmio nacional de segurança viária baseado em dados do ‘PRF analytics’ com aplicação do power BI”.
O concurso, instituído pelo Edital N° 1/2025/DIOP, visa fomentar, selecionar e valorizar práticas inovadoras que contribuam para a segurança viária e o alcance das metas institucionais. O projeto, intitulado “Análise Preditiva e Otimização de Recursos na Segurança Viária”, propõe um modelo inovador que transforma a maneira como a PRF analisa e previne sinistros de trânsito, e foi avaliado em uma categoria destinada a estudos com aplicações efetivas de soluções para a segurança viária. O Bruno matemático nos explicou a base científica do estudo, que assenta-se em quatro pilares:
- Modelagem Preditiva com a Distribuição de Poisson: “O pilar do projeto é a aplicação da Distribuição de Poisson, uma poderosa teoria estatística usada para calcular a probabilidade de um número de eventos ocorrer com base em uma taxa de ocorrência média conhecida (λ)”. A fórmula é:

Bruno destacou que a inovação reside na forma como a taxa média (λ) é calculada para tornar a teoria aplicável à realidade da PRF, utilizando diferentes modelos de projeção:
A – Projeção por Média Histórica: Calcula o λ com base na média diária de todo o período histórico, ideal para análises de longo prazo.
B – Projeção por Média Móvel (30 dias): Calcula um λ mais dinâmico, com base na média dos últimos 30 dias, sendo mais sensível a tendências recentes.
C – Estimativa Anual Consolidada: Para cada modelo, é calculada uma estimativa para o total de sinistros no ano, somando os que já ocorreram com o valor projetado.
O segundo pilar utilizado foi o Princípio de Pareto:
- Priorização Inteligente (Princípio de Pareto): O Princípio de Pareto (Regra 80/20) é utilizado para identificar e priorizar os poucos trechos de rodovia que concentram a grande maioria dos sinistros graves, permitindo um direcionamento de recursos muito mais eficiente.
- Diagnóstico Estratégico (Análise de Volatilidade): De forma inédita, o projeto calcula a volatilidade dos sinistros — o grau de imprevisibilidade dos números. Essa análise permite diagnosticar se o problema em um local é crônico e estável (baixa volatilidade), exigindo soluções permanentes, ou se é situacional e instável (alta volatilidade), exigindo investigação para entender causas pontuais e replicar ações de sucesso.
- Inteligência Acionável (Business Intelligence): Todas essas análises são traduzidas em um painel de controle interativo em Power BI. A ferramenta não só apresenta os dados de forma clara, mas também realiza o cálculo de tendências e projeções, fornecendo inteligência acionável para os gestores e policiais na ponta da linha.
Reconhecimento
A proposta de Bruno Leonardo destacou-se por sua excelência em critérios-chave da avaliação, e obteve a nota máxima no quesito “Aplicabilidade” (25 de 25 pontos), o que atesta a viabilidade técnica e financeira da implementação do projeto em toda a PRF.
Como parte da premiação, o primeiro colocado na Categoria II receberá um troféu, uma vaga em curso ou operação temática da área de segurança viária e a possibilidade de desenvolver seu estudo no Centro Nacional de Estudos em Segurança Viária da PRF. A premiação oficial acontecerá durante a Semana Nacional do Trânsito, entre 18 e 25 de setembro, em Brasília (DF), onde os projetos vencedores serão apresentados ao Coordenador-Geral de Segurança Viária e ao Diretor de Operações.
Esta conquista reforça o compromisso da Polícia Rodoviária Federal com a inovação e a gestão por resultados, utilizando a ciência de dados como uma poderosa aliada na missão de promover a segurança e preservar vidas nas rodovias federais.
O “gosto pela pesquisa científica”
Na pós-graduação do IDESF, Bruno desenvolveu o artigo científico “Tríplice fronteira amazônica entre Brasil (Acre), Peru e Bolívia: o caso particular dos taxistas na faixa de fronteira”, em que aborda a intensa participação de motoristas de táxi em crimes ligados ao tráfico de drogas na região e as implicações desse fenômeno para o aumento da violência na faixa de fronteira. Das conclusões e recomendações apresentadas, Bruno apontou a necessidade de uma resposta coordenada e multifacetada para lidar com o problema, como o aumento da integração entre as forças policiais dos três países envolvidos, ações conjuntas e mais específicas de controle, envolvendo as polícias da União (como a PRF) e as polícias do Estado do Acre e desenvolvimento de políticas públicas direcionadas especificamente para a realidade daquela região de fronteira, dentre outros.
Luciano Stremel Barros, presidente do IDESF, expressou a felicidade em visualizar o quanto a pesquisa científica e a integração interinstitucional que a pós-graduação promove tem o potencial de ampliar o olhar dos servidores e desencadear inovações e excelência nos trabalhos. “Em geral, nas turmas da pós-graduação do IDESF, nós temos alunos de todos os estados da faixa de fronteira, e que são integrantes de forças policiais federais e estaduais, então as trocas de experiências são muito ricas. Além disso, outro objetivo do curso é justamente o despertar acadêmico, o quanto os métodos, as experiências anteriores de outros pesquisadores e os referenciais teóricos podem contribuir para o aperfeiçoamento dos trabalhos desenvolvidos pelos acadêmicos em suas instituições de origem”.
Da análise de fronteiras à predição em rodovias: a evolução de uma metodologia de pesquisa
Bruno ainda explicou à nossa reportagem o caminho científico e metodológico que percorreu durante os últimos anos. “O interesse em desenvolver o premiado trabalho de análise preditiva de sinistros não surgiu de forma isolada. A semente para essa abordagem foi plantada durante uma pesquisa anterior, realizada em parceria com o IDESF, sobre a complexa dinâmica criminal na tríplice fronteira amazônica. Naquele estudo, o desafio era compreender um problema de segurança pública aparentemente difuso: a participação de taxistas no tráfico de drogas. A pesquisa revelou que, por trás do caos, havia padrões claros. A criminalidade não era aleatória, ela se concentrava em atores específicos e em uma geografia bem definida. A análise aprofundada daquele cenário, publicada na revista científica do IDESF, demonstrou o poder de um método investigativo que foca em identificar e dissecar as causas-raiz de um problema para propor soluções eficazes e direcionadas”.
Durante a pesquisa realizada na pós-graduação, ele não apenas realizou trabalho teórico, mas também fez pesquisa de campo e aplicou entrevistas com os taxistas da região estudada. Ele conta que foi a partir dessa experiência que surgiu a inquietação e o questionamento central, se seria possível aplicar a mesma lógica de análise de padrões a outro grande desafio da segurança pública, que é a sinistralidade no trânsito. Estava aí a pergunta de pesquisa do Bruno.
“A experiência com o IDESF despertou o interesse em ir além do diagnóstico. Se na fronteira identificamos os padrões do que já havia acontecido, o próximo passo seria usar a ciência de dados para prever o que iria acontecer nas rodovias. Assim, a metodologia evoluiu. O que antes era uma análise qualitativa e investigativa sobre a criminalidade na fronteira, transformou-se em um modelo quantitativo e preditivo para a segurança viária. Os ‘atores’ se tornaram os trechos de rodovia, os ‘padrões criminais’ se tornaram as probabilidades estatísticas de sinistros, calculadas com a Distribuição de Poisson e a análise de volatilidade”.
Por fim, ele ainda conta que o trabalho de predição de sinistros foi uma consequência direta do conhecimento adquirido.
“Foi a compreensão da importância de analisar fenômenos de segurança de forma localizada e baseada em evidências, aprendida no estudo da fronteira, que serviu como alicerce para construir uma ferramenta proativa, capaz não apenas de entender o passado, mas de se antecipar ao futuro para proteger vidas no asfalto”.
